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Seja bem vind@ ao blog publicações de Lucas Maia. Neste blog você encontrará todos os textos impressos e virtuais que já publiquei. A intenção é reunir em um único lugar os títulos (artigos, livros, resenhas, notas etc.) que já publiquei ao longo de minha trajetória intelectual e política.

BOA LEITURA



terça-feira, 5 de outubro de 2010

Poema Manifesto: Caminhos para uma Poesia do Futuro

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Estes versos, que entrego à crítica agora, destinam-se primordialmente aos trabalhadores e àqueles que com eles querem lutar. São meras impressões. Não devem ser levadas muito a sério. Acredito profundamente, e esta convicção me motivou a escrevê-los, de que sou tão somente um indivíduo que não cabe neste mundo. O capitalismo é pequeno de mais para toda nossa humanidade. Toda a tecnologia, as auto-estradas, linhas férreas, complexos industriais, engenharia genética etc. é deveras muito pouco para nossa humanidade.

Acredito que a poesia é uma forma de comunicação. Com as imagens, com as figurações que o discurso poético permite criar, podemos inventar formas viscerais de criticar o existente: o homem burguês, o mundo burguês, a sociedade burguesa. O discurso poético dispõe de certa liberdade de representação que outras formas de expressão da realidade não tem. A representação imagética que criamos tem como objetivo denunciar, criticar e propor.

Por isto, não fazemos coro àqueles que se digladiam em propostas estéticas. É chegado o momento de abandonarmos completamente a independência do discurso artístico. Na ciência, a crítica ao positivismo e à sua tão famigerada proposta de neutralidade axiológica é por demais objeto de severas críticas. Em que pese continue a existir e deveras ser hegemônica dentro da comunidade científica, a demonstração de sua impossibilidade já foi feita de diversas maneiras. O mesmo ocorre com o discurso artístico. Declara-se de diversos modos que os artistas são “livres” para criar, livres para produzirem sua arte. O laboratório do cientista e o ateliê do artista aparecem, nestas mistificações, como torres de marfim onde vivem belas virgens esperando o príncipe encantado que as colocarão novamente em contato com o mundo exterior. Se não existem rapunzéis e belas adormecidas, muito menos existem artistas e cientistas isentos de responsabilidade com suas produções.

A poesia não é sublime. É tão somente uma forma de expressão da realidade. É tão somente uma criação humana. Nada mais, nada menos que uma criação humana. Pretender que ela seja mais do que isto, é postular que ela seja mais do que realmente é. Tal como o cientista produz ciência, o artesão, artesanato, o poeta produz poesia. Nada mais. Pretender algo mais do que isto, é o mesmo que construir uma ideologia, ou seja, falsa consciência sistematizada, tal como escreviam Marx e Engels. Para estes autores, a ideologia surge quando a consciência pensa que é algo mais do que o ser consciente, ou seja, quando aqueles que produzem idéias complexas pensam que suas idéias são mais e independentes do que aqueles que as produzem. Somente neste contexto, quando o produtor de idéias se torna uma criatura de suas criações, podemos falar que a ideologia domina a produção da consciência.

Tal como diziam Marx e Engels, na sua famosa Ideologia Alemã, a consciência é tão-somente o ser consciente. O ser consciente é o ser humano histórico, concreto, envolvido em relações históricas e concretas, ou seja, em relações de produção, circulação, consumo, familiares, institucionais, religiosas etc. Em outras palavras, a consciência é a consciência que o ser tem de si mesmo, de sua vida. Ela não é mais do que ele. É uma totalidade com ele.

Da mesma forma, a poesia em particular e a arte em geral. Elas não podem ser mais do que aqueles que as produzem. Elas não são independentes daqueles que as produzem. A produção poética é simultaneamente um processo individual e social. Social por que o indivíduo é uma totalidade com o mundo no qual nasceu, cresceu e vive. É individual, particular, por que a sociedade em geral não produz poesia, mas sim um indivíduo em particular. Assim, a produção poética é simultaneamente geral e particular, individual e social.

Deste modo, numa sociedade fracionada em classes sociais, os indivíduos que nelas nascem necessariamente se inserem numa ou noutra classe social. Sua mentalidade, valores, concepções são forjadas neste contexto social. Seu modo de vida, os lugares que freqüenta, as coisas que come, as músicas que ouve etc. são em grande medida determinadas por sua situação de classe. Naturalmente que alguns elementos intervém nisto e a realidade concreta é bastante complexa para permitir determinadas interações. Entretanto, o lugar do qual se nasce determina em grande medida quem você é. Naturalmente que um ou outro indivíduo pode mudar de classe: pode ascender socialmente ou o que é mais comum, pode descender socialmente. Isto complexifica um pouco mais a análise, mas não a invalida. A produção material da existência condiciona as formas de consciência sobre ela.

Mas é necessário distinguir duas coisas. Uma é a consciência que uma determinada classe tem de si considerada em certo contexto histórico. Outra é o seu ser desta classe. Marx, analisando a classe operária, afirmou que existe a “classe operária em si” e a “classe operária para si”. Poderíamos dizer, utilizando outra linguagem, que existe o “proletariado empírico” e o “proletariado revolucionário”. O primeiro é o conjunto da classe operária considerada como agente do capital, ou seja, que está a ele submetida, sem esboçar seus interesses de classe. A segunda se desenvolve em determinados momentos históricos, nos quais o proletariado se levanta contra o capital, defendendo seus próprios interesses e apresentando seu projeto histórico de uma nova sociedade: a Autogestão Social.

O poeta em particular e o artista em geral, bem como todo e qualquer ser humano, necessariamente, conscientemente ou não, está de um ou outro lado dos projetos históricos de classe. Postular qualquer independência, autonomia da poesia com relação aos conflitos e interesses de classe é pura ideologia, ou seja, mentira descarada.

Nos versos que seguem, o leitor não encontrará nada disto. Declaramos em alto e bom som, que nossa perspectiva é a do proletariado. Da mesma forma que o proletariado, ao defender seus interesses particulares, liberta a humanidade inteira, acreditamos que, fazendo uma poesia consoante ao proletariado, nada mais estamos fazendo que uma poesia universal.

Nossa poesia é de classe e paradoxalmente humanista e geral. Só há humanismo, onde houver revolução social. Só há revolução social, onde há seres humanos em luta. Quanto mais visceral é a luta proletária, mais humana é existência. Por isto nossa poesia serve incondicionalmente à luta revolucionária do proletariado. Assim, defendo o fim da poética em si, ou seja, da poesia como algo separado. Defendo que o mais íntimo do ser humano, aquilo que ele tem de mais recôndito e escondido é um processo amplo e complexo. Qualquer intimismo é sempre social. A poesia começa no texto e termina na vida ou talvez o contrário é que se dê, por isto, defendo que a poesia esteja para além do texto. Já passamos da hora de criticar a poesia, temos agora é que realizá-la.


Não sei se poeta, não sei se lutador. Talvez um seja consequência do outro!!!

Um comentário:

  1. Amigo, queria que me dissesse se tens inspiração no Augusto dos Anjos e se a poesia a seguir é de sua autoria...

    A sombria mancha vermelho-cinza me arruína!
    Carrego comigo 150 quilos de dores seculares,
    No meio das quais se dissolvem todos os pares
    Dos amantes que a multidão violentamente fulmina.

    Mais uma noite sozinho, preso em milhões de azares
    Corro para dentro de mim buscando algo humano.
    Só encontro destroços, pequenos fragmentos insulares,

    Restos de alegria, a loucura dispersa num oceano.
    Mas do tropel da desgraça que violentamente me assola,
    Da vida que corre pelos trilhos metálicos da morte hedionda
    Brota o Germinal, como disse muito bem o velho Zola!!!

    Somente agora que o sangue noturno entope minhas artérias,
    Vejo descer pelas ladeiras da resistência uma imensa bola,
    Que aumenta de tamanho tal qual um tropel de bactérias.
    ∗∗∗
    E cria, no meio destas estradas funéreas
    Uma onda gigantesca de muita vida,
    Trazendo para si a potência perdida,
    Fazendo de si imaginações aéreas.

    Da angústia dolorosa do corpo massacrado,
    Da solidão que me afugenta em delírio,
    Da morte que goza no martírio,
    Do sádico que se regozija ante o encarcerado,

    Da dor solitária que destrói o homem atomizado,
    Da mônada claustrofóbica que envolve o indivíduo
    Há de reerguer-se em movimento o povo conspícuo,

    Há de lutar a multidão de forma muito organizada.
    Tal como um fósforo que pego-o e risco-o,
    Também a vida será por todos nós revolucionada.

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